Um espaço italianinho e maluco

Domingo, 6 de Julho de 2008
Abrindo uma caixa postal pensando no Schrodinger

Sexta feira passada cheguei em L'Aquila por volta do meio dia e primeiro que tudo foi para os Correios, na praça principal.

Tenho uma caixa postal nos Correios, em L'Aquila.

Caixa Postal?

Mas para fazer o quê? Agora temos os e-mails, quem é que escreve cartas?

Alguns escrevem.

As cartas, essas com os envelopes, os selos...

Todos gostamos de receber um email por alguém de que gostamos, não é? Mas receber uma carta é outra coisa, diferente.

Há uma pessoa a quem eu quero bem, que já não tem meu numero de telemovél, já não tem minha morada actual, nem meu email, nem nada. E eu também já não tenho nada dela. Se quisermos entrar em contacto só temos uma possibilidade: os correios, quer dizer, os correios tradicionais. Ela tem o numero duma caixa postal que está no meu nome nos Correios de L'Aquila, e eu tenho o endereço duma velha morada dela, ela já não mora alí mas há uma pessoa que pode fazer chegar as cartas até ela. Ela escreveu que recebeu as que lhe tinha enviado.

Havia três meses que não punha os pés em L'Aquila, então primeiro que tudo fui aos Correios ver se estava algo para mim na Caixa Postal.

Entrei nos Correios e fui logo frente à parede com as caixas postais, cheio de medo.

E se não encontrar nada?

Peguei na chave.

A chave que entra...

Agora é preciso abrir a caixinha...

Ufff...um respiro fundo.

Por um instante pensei no gato do Schrodinger.

Antes de abrir a caixa o gato estava vivo e ao mesmo tempo morto...

Antes de abrir a caixa pensei que dentro havia uma carta para mim e ao mesmo tempo não havia carta nenhuma.

Se o Schrodinger ganhou o Nobel para a Física em 1933 quer dizer que tinha razão.

Fiquei um instante ali coma chave introduzida mas sem abrir.

O acto de eu estar ai a observar devia determinar o colapso das funções de ondas.

Antes que aconteça uma interacção que escolha o que se actualiza na realidade tudo já existe em termos quantisticos coexistentes.

Antes que a caixa seja aberta, o gato é ao mesmo tempo vivo e morto, e também é ao mesmo tempo feliz e infeliz, são e doente...

Mas sabia que gatos numa caixa postal com certeza não devia haver, gatos vivos e mortos ao mesmo tempo só mesmo nas caixas do paradoxo do Schrodinger.

Agora abro e encontro uma carta a minha espera, uma carta dela.

E assim abrí.

Não, não estava lá carta nenhuma. A caixa postal estava mesmo vazia.

Um grande silencio na minha alma.

Afinal ,pelos vistos o tal gato morreu...

Ah...Schrodinger...fugiste dum manicómio, não foi? Como é que conseguiste apanhar o Nobel?

Pensava que então, observando, as infinitas possibilidades, os estados os dois aspectos da realidade...

Grande confusão!

Ah ah ah....não percebo nada de física, admito!

No Sábado à noite encontrei-me com a minha ex-mulher. Ficamos bons amigos. Mas será que faz sentido a gente ver-se de vez em quando?

Sentados ali numa esplanada a conversarmos como bons amigos.

Ela a falar-me da vida dela na costa oriental e eu a falar-lhe do norte. Os dois a trabalharmos  longe de L'Aquila.

E enquanto falava com ela eu pensava na saliva duma portuguesa de que também gostei, não essa que tem o numero da minha caixa postal, e sim outra, lindíssima e impossível, outra que nunca foi minha, outra que é veneno puro, mas eu pensava na saliva dela, pensava na língua dela.

Tenho vontade de portar-me mal.

Onde trabalho há uma empregada que gosta muito de mim. Já fez de tudo para que eu percebesse. E eu sempre a fingir não perceber. Muito inocentinho mesmo. É que não me diz nada, é muito masculina e eu gosto de mulheres femininas, com saia, saltos...sou um tipo tradicional...

Mas acho que amanha vou perceber.

Tenho vontade de magoa-la.

Tenho vontade de brincar com ela, de portar-me mal.

Mas porquê?

Não sei, francamente não sei. Preciso de ser mau. Tenho vontade de ser mau.

Ás vezes apetece-me ser muito mau, egoísta, pensar somente no meu prazer e mais nada, gosto de tratar as mulheres como objectos, como objectos prazerosos e mais nada, e depois rua de mim, lixo, larga-me.

Mas nem sempre.

Ás vezes gosto de ser anjinho mesmo, muito bom rapaz.

Porque não posso ser uma pessoa normal, como todos?

Porquê só consigo sentir-me bem em situações extremas?

Ou muito meiguinho ou mesmo uma merda.

Branco ou preto.

Olha que entre preto e branco há muitos cinzentos, dizia-me um ex-chefe meu, que agora morreu, coitado. Tinha razão. Os cinzentos....

É que não gosto de cinzentos, os cinzentos ( e as cinzentas) aborrecem-me.

Queria estar num Hotel, a beira mar, a fazer lutazitas físicas e psicológicas com uma mulher muito inteligente e muito má. E muito preguiçosa, também...uma gata...

Não vou nunca fazer nenhuma birra em nenhum Hotel a beira mar, com ela.

Se um dia chegar a presença de Deus pergunto-lhe como teria sido...quer dizer...

"Meu Senhor, diga-me só uma coisa se faz favor, eu teria gostado? Com ela, Senhor, teria gostado? Essas fantasias malucas ....se realizadas...teríamos gostado?

E se não chegar à presença de Deus e sim do Diabo, então pergunto ao Diabo.

Às vezes penso nela e sinto-me rebentar de desejo.

Quando for a Lisboa vou dar uma volta ali ao Júlio de Matos, ver se encontro a minha alma gémea maluca, se calhar a minha cara metade , se portuguesa, só mesmo no Júlio de Matos.

Não percebo nada de física...

E agora estou aqui, e não tenho nenhuma carta de Portugal. Essas tais funções de ondas colapsaram duma forma diferente do que eu queria.

A maluquice não faz falta neste meu blogue.

Os leitores , se conseguirem chegar até aqui, devem estar aborrecidíssimos!

Coitados!

Estúpido italiano....


: doentinho na cabeça

publicado por Il Conte às 20:34
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