Dia insonso hoje, tenho andado por ai um bocado chateado, com pouca paciência. Tenho um emprego de que gosto (ainda que seja muito mal pago), tenho uma mulher que me ama e que eu amo também, estou bem em saúde, tenho um carro, um papagaio, dúzias de relógios, montes de camisas, roupa, sapatos, como três vezes por dia e às vezes com lanches e merendas até cinco ou seis: tenho tudo, muitas pessoas, desempregadas, doentes, nas prisões, sozinhas....queriam muito bem estar no meu lugar...
Esquisito, ultimamente tinha aprendido a ser mais agradecido, a dar graças a Deus pelas bênçãos, agora parece que ando preguiçoso, a nível espiritual, em vez de ficar focado em tudo o que já tenho, começo sempre a pensar naquilo que faz falta. O que faz falta? Dinheiro ! Ando sempre liso, com este meu ordenado portuguesinho...eu não cresci aqui e é-me difícil viver sem dinheiro, antes de mudar para Portugal ganhava bem...
Ufa, que grande indecisão...tenho vontade de pirar-me, de sair desta miséria.
Estou com pouca paciência para sacrifícios e renuncias, agora só tenho caprichos, queria viver à grande e à francesa, no luxo total.
Bah, admito que me sinto bastante cretino hoje!
Hoje fui dar uma volta até Roma a procura dum livro que não tinha encontrado nas livrarias de L'Aquila. Como não tinha vontade de conduzir fui de autocarro e assim enquanto viajava aproveitei para estudar um bocadinho a minha gramática da língua portuguesa. De autocarro a viagem de L'Aquila até Roma demora uma hora e meia (de carro uma hora), são 100 quilómetros de auto-estrada. Depois mudei de ideia e não comprei nada na livraria de Roma.
Mas quando cheguei em L'Aquila deu-me assim, sabe-se lá como , de satisfazer um capricho: adoro papagaios, resolvi comprar um. Já tinha tido na vida outros papagaios, um de origem latino-americana e outros dois de origem africana, este que comprei hoje é um papagaio de origem australiana, o nome da espécie é Platycercus eximius, conhecido mais simplesmente como "Rosela", os outros que tive foram verde (o latino-americano) e azuis (os dois africanos), enquanto este é vermelho. Nossa, quanto assobia!!! Está sempre a assobiar, mas é um assobio agradável, nada a ver com o Conuro da Patagonia que tive e que gritava de maneira absurda e ensurdecedora, este tem um assobio agradável para o ouvido humano, e parece também mais calminho, não é furioso ou nervoso como os que já tive. Depois por motivos de trabalho e de mudanças de casas tive que dar a outras pessoas os meus velho papagaios, um vendi a uma loja de animais, os dois africanos dei a uma colega da minha ex esposa por nada, mas oxalá este consiga viver largos anos comigo. Os papagaios vivem muitos anos, são animais que podem viver até mais de um ser humano. Estou a gostar deste meu novo amigo, é bom ouvi-lo assobiar em casa, e gosto quando me fita misteriosamente, curioso. Estes não seriam tempos para caprichos, com esta crise económica que aperta, mas não soube resistir...e depois últimamente tenho levado uma vidinha poupadinha sem luxos inúteis portanto acho que bem mereço gastar um bocadinho de dinheiro comigo.
Enquanto teclo lá está o papagaio a fitar-me, calminho.
Que grande diferença com os outros que já tive, tão nervosos e antipáticos!!!
Acho que se Deus quiser, com este aqui podia ser bom amigo, acho que nos vamos dar bem, ao menos esta é a primeira impressão de hoje, ele chegou na minha casa há poucas horas. Parece estar à vontade, come a frutinha e as sementes, assobia tranquilo, parece gostar da nova casa dele.
Por ele escolhi um nome em dialecto da terrinha, uma palavra 100% aquilana, que só se utiliza mesmo aqui em L'Aquila e não fica percebida a mais de 30 quilómetros daqui : "Tonetó"
Tonetó, em dialecto aquilano diz-se dum sujeito que tem uma voz cava, cavernosa.
Na verdade o papagaio nem tem uma voz assim tão cavernosa como isso, alias o assobio dele é agradável, mas acho engraçada a palavrinha em dialecto e portanto fica-lhe esse nome:
TONETÓ.
Amanha hei de partir, vou ter que ficar uns dias fora da minha terrinha, por motivos de trabalho: Não me apetece nada, absolutamente nada!
Custa-me sempre imenso ter que sair da terrinha...
É uma dependência esta que tenho para a minha terra, bem, antes isso do que dependências piores, tipo álcool ou drogas...mas não...eu nem sequer fumo...bebo muito pouco, menos de um copo de vinho por dia e nunca me droguei na vida, mas não sei viver longe da minha terrinha, morro logo de saudades. Deve ser porque no passado já tive que ficar longe imensos anos, e agora que tenho uma casinha minha e uma actividade minha aqui, queria ficar sempre aqui, sem ter que sair. Aquela sensação do cantinho...gente boa, paisagem linda, montanhas lindas e fresquinhas: para que ir embora?
Mas tem que ser, work calls.
Que chatice!
Esta noite ainda vou dormir na minha casa mas depois vou passar seis noites fora, então agora estou a ter muitos caprichos, como uma criança com cinco aninhos que não queria largar a casa dos avós. Quando está em jogo a terrinha é sempre uma pequena tragédia!
Quando é que vou ter juízo?
Viajei muito, por países de quatro continentes, mas até agora nunca vi uma terrinha mais linda da minha (ok, admito, sou muito parcial!), com uma única excepçaõ: O Minho, uma terra que aos meus olhos não é mais linda da minha, mas também não podia dizer que é mais feia. O Minho é para mim o único lugar que vi (até agora) no qual podia ficar uns tempinhos sem grandes problemas. Deve ser porque nas cidades do Minho também há gente boa e aquela sensação de calor e segurança do "cantinho".
Deixo a outros, com gostos diferentes, as paixões para as grandes metrópoles do planeta cheias de vida (bah....) e muito internacionais (bah...).
Ufaaaa....não me apeteceeeeeeeeeee.......
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