Estou a passar por uns problemas práticos, como todas as pessoas que vivem em L'Aquila, os bombeiros andam controlando as casas para darem a certificação de habitabilidade, como hão de controlar todas as casas da cidade e como os abalos continuam (a terra continua mexendo mas em escala menor) o Presidente da Câmara não autoriza as pessoas a voltarem a dormirem nas suas casas, nem essas cujas casas ficaram de pé, e assim, todos, ricos e pobres, ficam agora a dormirem em tendas (os que tiveram a couragem de ficarem aqui, mais ou menos uns 40.000) ou longe da cidade, uns 25.000 que se foram embora. Hoje a rua onde moro foi fechada pelos bombeiros e já não tenho acesso à minha casa, quer dizer, não tenho mas hei de pedir licenÇa aos bombeiros e só posso ir lá acompanhado. A minha casinha ficou de pé mas está sem luz, sem agua e sem aquecimento, como todas as outras e não posso lá entrar. Os controlos estaticos vão demorar semanas, meses, só aos poucos as pessoas vão conseguir voltar às suas casas, a maioria delas, quase todas, também não podem voltar aos seus empregos pois é preciso controlar também a segurança estatica de escritorios e fabricas, lojas, etc. A cidade está a caminho de voltar à vida, mas é um caminho comprido. Os problemas praticos são : impossibiloidade de ter acesso às nossas coisinhas, livros, músicas, roupa, etc, pois não podemos levar para as tendas tudo o que temos, como se pode imaginar, então aprendemos a estar no mundo com uma bagagem material muito leve!!! E depois, falta de privacidade, desconhecidos a partilharem espaços em comum, tendas, casas de banho, etc. E mais: vida cultural muito reduzida, quase parada, L'Aquila tinha uma vida cultural muito intensa. Os problemas praticos são imensos. Mas as pessoas parecem ter perdido muito rapidamente muitos dos seus problemas morais, espirituais ou psicologicos. Quem chega hoje em L'Aquila encontra pessoas muito ocupadas e que têm imensos problemas, mas não encontra pessoas tristes ou deprimidas, ou então encontra muito menos da media. Ando descobrindo a riqueza das pessoas, a riqueza que andava escondida e que agora está a despontar. Vejo as pessoas a darem, darem também materialmente. Estes estão a ser os dias mais interessantes da minha vida, até agora nunca tinha vivido de maneira tão intensa, a vida tem hoje para mim um sabor maravilhoso estou super entusiasmado com a minha vidinha e não trocava com ninguém no mundo, nunca fui tão feliz na vida. Muitas pessoas desiludiram-me imenso: os meus pais, as minhas manas, os meus parentes, os meus amigos, todas as pessoas em que eu acreditava antes viraram-me as costas, deixaram-me sozinho, nas tintas comigo, eu agradeço Deus porque ele tirou o veu de tanta hipocrisia, ele mostrou-me que não havia lá, nessas pessoas, amor verdadeiro para mim, e de repente pessoas que outrora eram importantes para mim, como por exemplo a minha familia ou amigos, hoje não são nada. Mas em troca sinto o amor de Deus para mim, e descobri outros amores. A minha Portuguesa preferida está a lutar como uma lioa para me encontrar um emprego em Portugal, bate a todas as portas, fala com muitas pessoas, entrega curriculum meus, ela quer-me ali ao pé dela, e eu também queria viver com ela, amo a minha terra, mas amo ela também, e se conseguir mudo para Portugal, para depois voltarmos para a minha terrinha de ferias. Outros que me amam muito são os outros evangelicos que cá vivem comigo, deram-me roupa, uma cama na tenda, dinheiro e tudo o que necessito, realmente ajudam-me imenso, os evangelicos ajudam-me muito porque me querem bem, e eu quero bem a ele, e porque me ajudam praticamente, e não só com palavras, ajudam-me materialmente. Aqui posso ver de perto a enorme diferença entre os catolicos e os evangelicos na forma de ajudarem as pessoas, os catolicos falam muito e fazem muito pouco, os evangelicos não falam nada e resolvem os problemas em silencio, sem publicidade. Agradeço Deus pela Portuguesa numero três e pela comunidade evangelica de L'Aquila, se eu conseguir voltar a ter uma vida normal será unicamente graças a eles. O meu relacionamento futuro com os meus pais, as minhas manas e as outras pessoas que me viraram as costas passa agora a ser minimal, eu por mim podia até acabar de ter laços com eles, tanto faz.
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